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Notícias: Você que é Visitante ou Membro do Fórum da MPHP Participe do Novo Tópico sobre Submarinos Nucleares: Descomissionamento, A Questão
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1  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Atos 12:17; Fuga ou Morte de Pedro? : 16:03:08:03:21:25
Caro amigo,

O texto expressa um recurso literário recorrente utilizado pelo autor lucano.

É simples - mas um pouco difícil de observar.

Há no texto de Atpos uma tensão entre a necessária pregação aos gentios e a manutenção do cristianismo em domínios judeus. Quando o autor de Lucas escreve, ele já sabia do sucesso da pregação cristã entre gentios, além das histórias da morte de Pedro e Paulo. Conhecia também a dificuldade inicial de aceitação da pregação as gentios.

Que recurso ele utiliza então?

Todos os que descobrem e se lançam à pregação aos gentios "desaparecem".

Pedro, após entender o ministério da pregação aos gentios, desaparece - o que possivelmente indica mais que a sua morte - indica o verdadeiro perpetuamento do seu ministério, uma vez que a sua ida a um campo de trabalho gentílico, após a sua relutância em pregar aos gentios, a sua rejeição ao lenço com alimentos impuros e a sua dificuldade com a pregação e batismo a Cornélio são superadas. Após ele entender a mensagem divina, ele desaparece!

Paulo, o outro grande personagem de Atos, insiste em anunciar o testemunho primeiramente em sinagogas - e não é chamado de apóstolo enquanto assim procede! Os principais adversários, que trouxeram grandes dificuldades para a sua pregação, eram judeus. Por fim, Paulo descobre, após a prisão domiciliar, que deve parar de insistir na idéia que durante todo o livro ele praticou, e se entregou com intrepidez à pregação aos gentios. O que acontece após isto? O livro acaba. É sempre assim em Atos - o silêncio sobre a morte desses personagens se traduz em "sumiço" - e o sumiço só ocorre após os mesmos se convencerem da necessária pregação aos gentios.

Acredito que é um recurso literário importante, desde que não seja feito dele uma desculpa para o antisemitismo!

Abraços,

Brian
2  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré (Maccoby) : 6:03:08:16:12:06
Olá, Mário...

Cabe um complemento na minha fala.
Os cristãos primitivos também não eram:
-católicos
- protestantes
- ortodoxos
- comunistas
- liberais ou neoliberais...

Eu vou postar lá sim! Só quero registrar aqui uma opinião que tenho, e que desejo deixar clara para todos: ficar defendendo a fé, seja ela qual for, é um atraso de vida!!! Quem tem fé, seja no que for, deve entender que ela é coerente apenas para si e para o seu grupo. Ficar con-BATENDO e con-VENCENDO é uma bobagem, que só destila o ódio!

E tentar con-BATER e con-VENCER quem tem fé é inútil!

Nessa dialética é que caminho...

Abração e até logo - lá no post da ideologia,

Brian



3  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré (Maccoby) : 6:03:08:06:15:17
O Sr. Mário afirmou:
Citar
O fato é que Paulo e mesmo outros documentos do NT não poderiam desprezar aspectos do homem Jesus e de sua carreira na terra. Se Paulo estava pregando um homem que era Deus, seus seguidores e convertidos iriam demandar por informações sobre a vida deste homem, seus feitos e ditos. Quisesse ou não Paulo teria que que se esforçar para conhecer informações sobre o Jesus terreno.

Caríssimo Mário,

A obviedade deste interesse sobre o Jesus humano é típico do nosso tempo.

Mas as comunidades do primeiro século não eram "humanistas seculares".

Só para fazer um paralelo: a ausência do líder dos essênios não produz, nas regras da comunidade, nenhuma descrição da sua vida terrena. O que ocorre é o contrário: ele aparece nas menções da esperança apocalíptica no livro "Dos Filhos da Luz Contra os Filhos das Trevas".

Já entre os gentios, os cultos de mistérios eram celebrados para divindades que outrora foram homens, mas nada disto desperta qualquer interesse pela vida terrena dos deuses.

Eu acredito, Mário, que não estamos falando de um contexto de historiadores, de pessoas que dividam bem o religioso e o secular. Estamos falando de um período marcado pelo misticismo e pela devoção, atrelada às inúmeras outras características, algumas das quais conhecidas, outras não.

Mas ainda assim, quero dizer que o silêncio de todo o Novo Testamento (exceto os Evangelhos) sobre o "Jesus Histórico" se deve mais à abrangência do querigma que às tentativas de "acobertamento" do escândalo da morte sem ressureição. Que fique registrado que Paulo TRATA SIM DO JESUS TERRENO, mas este não é o JESUS HISTÓRICO! Na "paradósis", no discurso sobre a ceia de Coríntios 11, no capítulo 15 de Coríntios. Não era necessário falar mais, porque das coisas ocorridas com Jesus os membros das comunidades cristãs "já estavam inteirados", ainda que esta tradição não seja suficiente para reconstituição histórica. Lembremo-nos que esta disciplina chamada "história" não existia. Praticamente nenhum texto da Antigüidade sobreviverá à crítica histórica pelo simples fato de que a história, como a fazemos, não existia.

Portanto, acredito que o silêncio revela duas coisas: que os cristãos conheciam o querigma, e que este querigma não é "história", mas discurso de fé... No querigma há menções aos atos do Jesus terreno, mas o que importa no CONTEXTO não era a vida ou morte em si, mas o significado das mesmas. Se hoje as pessoas querem seguir bons exemplos, com fidedignidade histórica, naquela época era necessário mais: era necessário ter mais do que uma boa estória - a principal exigência era mística. Achar que a religião cristã primitiva e as comunidades circundantes eram como nós, educados após o racionalismo, empirismo e iluminismo, é anacronismo.

Abraços,

Brian
4  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Marcus 9:42 & Outras Passagens Difíceis : 29:02:08:03:37:03
Cara Drª Aíla,

A tradição joanina difere bastante da de Marcos (o que não as invalida).

Pois bem: é a retomada tardia do dito - e num contexto diferente. Engraçado é que a partir deste dito é que Reicke fala do conhecimento dos sinóticos por João.

Aqui, de fato - como foi observado por ti - está: "lúsate tòn naòn toûton". É a segunda pessoa, e "naós" (templo) denota o "sôma", o corpo de Jesus (Jo 2.21).

Perceba que o evocar da tradição da destruição do Templo por Jesus se dá na boca dos judeus (Jo 2.20), o que João refuta (Jo 2.21, usando a adversação). Aqui, um dito dos sinóticos é retomado, para indicar o equívoco dos judeus sobre a reconstrução do Templo. Também para indicar que o Templo não foi reconstruído (ele, quando da publicaçã do Evangelho, já estava destruído), mas que Jesus ressuscitou - e que era deste assunto que Jesus tratava. Ainda é importante afirmar que o texto surge no contexto da "purificação do Templo", indicada como tendo acontecido numa das viagens de Jesus por ocasião da festa, e não como na tradição sinótica: na semana da sua morte. É um distanciamento significativo, que podemos discutir caso queiras, evocando Dodd, Brown e outros autores que lançam propostas interessantes sobre os porquês.

Agora, a outra pergunta.

Acho que não me fiz entender bem: Jesus não desejava tomar o controle do Templo. Ele simplesmente desejava, segundo Marcos, explicitar a verdadeira serventia das negociatas ocorridas no Templo naquela época. A sua acusação é dura: o Templo se transformou em covil ou caverna de salteadores: "spélaion leistôn". O problema não está no Templo. Está nos salteadores. E uma coisa geralmente não se observa: no texto, Jesus está citando a acusação de Jeremias em Jr 7.11.

O que Jesus fez no epísódio foi afirmar a natureza da intenção dos sacerdotes em seu serviço naquele dado momento. De forma alguma ele desqualificou o ofício sacerdotal. Apenas exigiu que os responsáveis pelo Templo o utilizassem como as Escrituras exigiam (Is 56.7), "casa de oração para todos os povos".

Bom, são minhas opiniões.

Abraços,

Brian
5  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré (Maccoby) : 29:02:08:01:46:13
Cara Aíla,

Acho que é exemplar a sua atitude de nos abençoar com seus comentários e contribuições.

Em nome das centenas de anônimos do fórum, que certamente estão gratos, digo: muito obrigado!
E subscrevo suas opiniões sobre o Maccoby...

Obrigado pela força e pelo carinho que você tem mostrado a todos.


Abraços,

Brian
6  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Marcus 9:42 & Outras Passagens Difíceis : 29:02:08:01:39:51
Olá Aíla e demais colegas,

Quero comentar esta informação sobre o pátio dos gentios.

Você está certa: o pátio era dos gentios. Mas entendamos o que Jesus fez (em minha opinião).

Os judeus chegavam nas caravanas até a cidade para as festas e sacrifícios.

Sua moedas para nada serviam no Templo. Tinham que ser trocadas por moedas específicas para o imposto e a compra do animal "kasher" para o sacrifício.

Então, eles faziam o câmbio ali, no Templo. E os sacerdotes já "embolsavam" uma porcentagem do dinheiro.

Vamos imaginar agora: com dinheiro "kasher" na mão, o sacrificante vai comprar um animal "kasher". Ora: o Monte das Oliveiras, que ficava ali pertinho, era um grande mercado (ao contrário do que nos faz pensar a iconografia cristã). Mas, caso o judeu pobre comprasse suas rolinhas para o sacrifício, ela era rejeitada, pois não atendia as normas de pureza. Logo, eles tinham que comprar animais dos sacerdotes, muito mais caros (especialmente nos dias de festa).

Amiga Aíla: imagine um pobre comprar uma pombinha por um preço DEZ VEZES MAIOR que o normal. Imagine que ele não podia caçar uma rolinha e apresentá-la ao sacrifício. Aíla, a não-participação nos sacrifícios tornava muitos uma parte do grande grupo dos "am ha-aretz".

A terceira etapa: sacrificar.

Na passagem de Marcos, Jesus, de fato, chamou a atenção para a verdade sobre o Templo: ele é a "casa de oração" para TODOS os povos. Porém, é preciso destacar: ele atentou contra os sacrifícios ao executar a tripla ação profética contra os sacerdotes cambistas, vendilhões e que levavam utensílios para o sacrifício.


Vamos falar um pouco da moldura do texto:

Antes do episódio do Templo, a multidão de peregrinos pede (Mc 11.9): hosanná! (salve-nos!).

Pois bem:  o verso 11 diz que "quando entrou em Jerusalém, no templo, tendo observado tudo, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze."

O propósito redacional de Marcos é mostrar que o ato de Jesus foi pensado, refletido. Tem ligação com o clamor da multidão que, à semelhança dos judeus que acolheram Judas Macabeu, pediram ajuda, auxílio.

O texto está claramente a indicar a razão da morte de Jesus: não a blasfêmia contra o Templo (você, Aíla, está certa), mas a explicitação do uso pervertido do mesmo pelos sacerdotes.

O verso 18 afirma: "E os principais sacerdotes e escribas ouviam estas coisas e procuravam um modo de lhe tirar a vida; pois o temiam, porque toda a multidão se maravilhava de sua doutrina."

Olhe bem: nada foi feito com Jesus na hora. Por quê? Porque os romanos, em dias de festa e sacrifícios, ficavam à espreita. As sedições eram sempre tratadas com rigor (vide rebeliões nos anos 4, 7, 13, 17, 22, 29). Estas sedições prejudicavam os sacrifícios e os negócios.

Ainda que pareça muito político o que digo, e confesso que é, pelo menos é um olhar...

Os judeus daquela época queriam Jesus morto porque era considerado blasfemo? Por que se dizia Messias?

Não!

Lembremo-nos do processo no sinédrio. O texto (em Marcos, pois pode ser uma tradição deste evangelista apenas, depois a gente discute isto) é o seguinte (Mc 14.56-59):
"E, levantando-se alguns, testificavam falsamente, dizendo: Nós o ouvimos declarar: Eu destruirei este santuário edificado por mãos humanas e, em três dias, construirei outro, não por mãos humanas.  Nem assim o testemunho deles era coerente."

Perceba: os adversários de Jesus entendiam que ele gostaria de assumir o controle do Templo. Há um contexto político na descrição de Marcos...

Fico por aqui, dizendo que espero fazer companhia à solitária Aíla e aos demais colegas de fórum.

Abraços,

Brian
 
7  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré (Maccoby) : 28:02:08:14:19:51
Caro Mário,

Acho esta imperfeição, perfeição em humanidade, aquilo que nos faz divinamente humanos.
Que Deus nos livre de sermos divinos...

Não me incomodo com qualquer discussão. A gente discute e se acerta, e pronto. Normal.

E espero não ter fugido muito do assunto do Maccoby. É que acredito que há uma linha de investigação melhor.

Acho que Paulo foi "redescoberto", tirado das prisões dogmáticas, de leituras estritas devido ao "entulhamento" da tradição paulina feita por leituras unilaterais. Acusar Paulo de não ser "tão" fariseu é, no mínimo, desconhecer o farisaísmo em suas múltiplas expressões.


Vou compartilhar um outro caminho de estudos com você, que percebo que gosta muito dos estudos sobre o NT:

Tenho trocado e-mails com Yung Suk Kim, um professor de Novo Testamento coreano, radicado nos EUA. Ele está publicando um livro interessante, com o título "CHRIST'S BODY IN CORINTH".

É uma leitura política sobre o "soma toû Christoû".

É uma outra linha de interpretação que me interessa (há mais informações sobre o livro em: www.youaregood.com/bookchristbody.htm).


Bom: é isto...

Obrigado pela hospitalidade.


Abraços,

Brian
http://estudosnonovotestamento.blogspot.com/
8  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Marcus 9:42 : 28:02:08:06:40:09
Caros Colegas,


Gostaria de propor uma tradução para o texto.

A tradução proposta pela Aíla é:

Citar
Mc 9,42 E quem escandalizar a um destes pequeninos que crêem [em mim]*, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho e fosse lançado** no mar.


O pronome relativo no nominativo singular "hós", quando aparece com a partícula "án" (também "eán" em Mt 5.19,32) denota um tempo futuro indefinido. Logo, entendo que não deve ser traduzido simplesmente por "quem", mas por "quem quer que" ou "qualquer que" - puro preciosismo. A partícula também denota aquilo que é esperado que ocorra, quando acompanhada de um subjuntivo (que é o caso). Logo, o verbo skandalízo, que está na terceira pessoa do subjuntivo presente ativo (skandalízei) deve ser traduzido segundo esta noção. A tradução fica, por enquanto, assim:

"E qualquer que escandalize"

Sem me deter nas minúcias seguintes, proponho a seguinte tradução literal, sabendo-se que a presença do kaí em Marcos segue o "vav consecutivo" do hebraico, tornando os verbos todos conjugados como o primeiro:

"E qualquer que escandalize (aoristo no subjuntivo) um desses pequeninos, desses da crença (em mim), bom é para si se é atada (o verbo é passivo) (uma) pedra de moinho de asno (sing) em volta do pescoço dele e é lançada (o verbo é passivo: bébletai) para (eis+acusativo, designando o adjunto adverbial de lugar para onde) o mar.

Quanto à purificação do Templo, uma informação:
Jesus derrubou a mesa dos kollubistaí (cambistas) e a cadeira dos que katéstrepsen (venderam, o verbo está no aoristo, não no imperfeito) pombas... Ele não permitia que alguém conduzisse skeúos (vasos, vasilhas). O ato de Jesus eliminou a troca das moedas pela moeda do Templo (tíria, segundo Joachim Jeremias), acabou com a compra dos sacrifícios (cadeiras de vendedores) e fez cessar o sacrifício dos animais já pagos e levados para o altar. Em minha opinião, cá está a causa da sua morte (Ver: VOLKMANN, M. Jesus e o Templo). Para não haver sedição e interferência, orquestraram sua prisão num horário e local mais propícios, sem maiores agitações.


Abraços a todos,

Brian
9  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré (Maccoby) : 28:02:08:04:25:21
Caros colegas Aíla, Mário e Gildemar,


Gostaria inicialmente de afirmar o grande prazer em participar das discussões deste fórum.

Agradeço também ao Mário pela menção amigável e honrosa à minha participação na lista "Jesus Histórico".

Bom, li todos os posts, desde o início da discussão, e acho que a contribuição que posso dar é quanto ao judaísmo de Paulo.

Bom: inicialmente, sobre a fundação do cristianismo por Paulo, a tese de Maccoby (explícita no título do livro) não é dele. É antiga: pertence à WREDE. E sobre as dúvidas quanto ao judaísmo de Paulo, Wilhelm Heitmüller, no artigo Zum Problem Paulus und Jesus, já tratava da questão com grande propriedade (In: ZNW 13 (1912), p. 320-337). Bousset e Bultmann já afirmaram que Paulo pertence a uma tradição judaica helenista. Mas Paulo era judeu e mantém parte do legado judeu: eis a grande "descoberta" de Sanders, que praticamente fundou a "New Perspective on Paul" (SANDERS, E. P. Patterns of Religion in Paul and Rabbinic Judaism: A Holistic Method of Comparison. HTR 66 (1973). p. 455-78.).

Por que, então, considero Maccoby equivocado (e não sou o único: sou acompanhado por Wright, Kim et al.)?

Vamos à citação de Maccoby, posta bondosamente pela nossa colega Aíla:
Citar
En el libro presente, he usado la evidencia rabínica para establecer una contención más tangible: Aquel Pablo, quien el Nuevo Testamento desea retratar como si hubiera sido un Fariseo (Parush), quien nunca lo fue. Las consecuencias de esto, para nuestro entendimiento del cristianismo temprano son inmensas.

Pois bem: o paradigma e as fontes usadas pelo autor são:
- os ensinamentos dos fariseus (enseñanza de Fariseos)
- O Talmude e outros trabalhos rabínicos;
- Textos ebionitas;
- Pirké Avot;
- etc... (o que significa: outras fontes judaicas)

Porém, ele ignora o que se chama "judaísmo formativo" (por Andrew Overman). Até que ponto o judaísmo era matizado como o autor pretende afirmar?

A análise crítica do Talmude Babilônico e Palestinense (entre outros...) tem revelado que as tradições tidas como antigas não correspondem ao contexto do judaísmo pré-70. Os textos e cartas palestinenses e helenísticas revelam o caráter multifacetado e apocalíptico do judaísmo de então. Estas informações podem ser encontradas em: MONTEFIORE, C. G. Judaism and St. Paul: Two Essays. New York: Dutton, 1915; MOORE, G. F. Christian Writers on Judaism HTR 14 (1921). p. 197-254; MOORE, G. F. Judaism in the First Centuries of the Christian Era. 2 Vol. Harvard: HUP, 1927; DAVIES, W. D. Paul and Rabbinic Judaism: Some Rabbinic Elements in Pauline Theology. 4ª Ed. Philadelphia: Fortress, 1980 [1948]; SANDERS, E. P. Patterns of Religion in Paul and Rabbinic Judaism: A Holistic Method of Comparison. HTR 66 (1973). p. 455-78; DAS, A. Andrew. Beyond Covenantal Nomism: Paul, Judaism, and Perfect Obedience. Concordia Journal 27 (2001). p. 234-52; DAVIES, W. D. & STURDY, John (eds.). The Cambridge History of Judaism: Volume 3 - The Early Roman Period. Cambridge: CUP, 1999. p. 3.678-730.

É certo que o rabinismo apenas surgiu como movimento mais exclusivista após a destruição do Templo. A partir deste período, cristãos foram expulsos da sinagoga (como defende BROWN, R. E., A Comunidade do Discípulo Amado, p. 34ss; e CARTER, W. Matthew, p. 27, 29, 53, 129). Antes disto, o judaísmo não era aquilo que a tradição judaica formada apenas 200 anos depois quer fazer crer.

Só pra dar dois exemplos do NT da tolerância judaica nos meios mais intolerantes:

- Tiago era líder da sinagoga de Jerusalém;

- Estevão não foi condenado pro dizer ser Jesus o Messias, mas por acusar os membros do sinédrio de assassinos [phoneîs] e traidores [prodótai] (At 6.52-54);
...

Em minha opinião, as fontes judaicas usadas por Maccoby são ANACRÔNICAS!

Quanto às fontes judeu-cristãs - no caso, ebionitas - concordo com a afirmação de Maccoby postada bondosamente pela Aíla:

Citar
Robert Graves y Joshua Podro en el “Evangelio Nazareno”. Ellos han restaurado la tendencia que tenían los Ebionitas muy en serio; pero aunque ellos hicieron algunos comentarios fuertes en contra de ellos. Espero que el este libro presente haga más para cambiar esta actitud predominante y despectiva hacia la evidencia de esta comunidad fascinante e importantemente antigua, la secta judía de los Ebionitas.

Mas tenho alguns senões a fazer. Primeiramente, ele supervaloriza a importância dos ebionitas, em detrimento da importância do querigma. No querigma cristão primitivo, desde muito cedo, antes da redação de qualquer epístola paulina, estavam:

- Fórmulas sobre a ressurreição: que afirmavam a ressurreição de Jesus por Deus (pisteúomen hóti ho theòs égeiren Iesoûn ek nekrôn);
- Fórmulas sobre a morte: que afirmavam a morte (apothaneîn, ou entrega [paradoûmai, doûnai]) de Jesus pelos crentes ("por nós" [hemôn]), numa indicação entiga da morte expiatória;
- Aclamação, ou homologia [homologeîn]:afirmavam o senhorio de Jesus nas categorias da LXX (kýrios [Ieroûs]).

Ainda há outras fórmulas, mas estas bastam para revelar que a proclamação mais primitiva surgiu no interior de uma comunidade palestinense, judaica, inserida no Templo (At 2.46: "Diariamente perseveravam unânimes no templo"') e aceita pela comunidade judaica. Pois bem: o ebionismo não assumiu o querigma, e se assumiu, o negou. É por isto é que ele desapareceu enquanto grupo cristão. Vejamos características do texto ebionita e de grupos cristãos-judaizantes (se quiserem ampliá-las depois, a gente cria um post só pro tema):

- Evangelho dos Ebionitas: há familiaridades com os sinóticos, mas enfatiza o chamamento dos apóstolos, com estilo "nós" e marcas da INIMIZADE COM O TEMPLO. Eles eram menos judeus que Paulo só por causa disto (CULLMANN, RGG II).
- Evangelho dos Hebreus: há menções ampliadas das evidências da ressurreição de Jesus, com forte ênfase para a importância de Tiago (HENNECKE, SNG).



Portanto, voltando ao argumento sobre o judaísmo de Paulo.


Voltando para a relação de Paulo com o judaísmo, é importante afirmar: mesmo com sua proclamação, o cristianismo judaico era aceito na sinagoga. Daí, a segunda afirmação a se fazer é: no centro do querigma paulino está o Antigo Testamento, lido segundo o querigma (nas epístolas mais antigas) e segundo os desenvolvimentos próprios que ele imprimiu.  As citações do querigma em Paulo apontam para a redenção e expiação, temas judaicos. As temáticas de Romanos subscrevem a idéia de pecado do judaísmo farisaico. E ele resolve o problema de suas crenças com o querigma cristão-primitivo, com a idéia de redenção, de expiação (por sua vez, extraída de uma concepção judaica):

- "por nossos pecados" (1 Co 15.3): ecoa Is 53.4-6,11s.

Maccoby é um autor respeitável. Mas desconfio de pesquisas como as acredito que existem pesquisas que descrevem de maneira mais apropriada os limites judaísmo paulino, sem colocado numa "camisa-de-força" anacrônica.

O estudo do Novo Testamento passa, necessariamente, pela compreensão da pluralidade do cristianismo primitivo. A observação dessa exigência é uma das mudanças mais significativas na pesquisa neotestamentária do século XX - e ela não é observada pelo autor, ainda que ele liste e critique cada uma das escolas de interpretação do Novo Testamento em sua obra.

Helmut Koester,  por exemplo, afirmou que a compreensão do judaísmo, do helenismo e do Império Romano é decisiva para a análise da diversidade cristã das origens. De fato, o contexto é um importante fator para se entender as diversas facetas do testemunho cristão, sendo ainda importante ressaltar que as dimensões mais amplas do judaísmo, helenismo e do Império Romano, quando aproximadas, também revelam grande disparidade interior, além de interseções importantes entre si.

Um segundo ponto de observação, com relevância para os estudos paulinos, são as diferenças entre as tradições do cristianismo primitivo. Estas distinções não são percebidas apenas no detalhamento das assimetrias entre os textos de tradições distintas,  mas no reconhecimento e intercâmbio explícito entre as mesmas.

Em terceiro lugar, os autores cristãos não apresentam pensamento monolítico, uniforme e invariante. É possível encontrar grande disparidade no pensamento do mesmo autor, quer seja na mesma obra,  quer seja entre as obras escritas pelo mesmo autor. Afirmar que as particularidades de Paulo o descaracterizam como judeu é como fazer uma arca que leva ao Hades e colocar lá Paulo, Anás, Caifás, Fílon, Gamaliel etc.

Um novo fator de análise que acho que pode ser considerado emerge no encontro com as tradições cristãs neotestamentárias: a história da pesquisa, que permite o encontro com diversas facetas e leituras dos diversos testemunhos sobre o cristianismo. O percurso da investigação a respeito das diversas tradições deve passar pelo exame circunspeccioso dos critérios, métodos e conclusões assumidas desde a recepção do texto. Os contextos judaicoe pagão devem ser estudados com maior proximidade.

Diante de tantos “Paulos”, é preciso reaver o contexto em que o apóstolo Paulo surgiu. É isto que Maccoby tenta, mas acho que fracassa pela sua "unilateralidade". Vejamos aspectos gerais:

1) O Uso do Antigo Testamento no Novo Testamento: o testemunho neotestamentário está profundamente ligado com as expectativas e esperanças do judaísmo. Grande parte dos conceitos do Novo Testamento são ecos ou releituras do ambiente veterotestamentário. É preciso recuperar o tema do judaísmo no cristianismo.

2) A Influência de Jesus e da Igreja Primitiva em Paulo: uma vez compreendido o Novo Testamento e sua vinculação com o Antigo, deve-se partir para a vinculação de Paulo com o chamado querigma cristão. As semelhanças e diferenças existem, e precisam ser devidamente investigadas e apontadas.

3) Paulo Sob o Signo do Judaísmo e do Helenismo: a análise mais recente a respeito de Paulo trata da relação entre Paulo, o judaísmo, o helenismo e o Império Romano.

Acho que a obra que mais se aproxima desta análise não é a de Maccoby. É uma obra antiga, mas pra mim ainda não superada: MEEKS, Wayne. Os Primeiros Cristãos Urbanos. Ela é cheia de defeitos, mas consegue olhar o texto numa perspectiva mais clara. Os textos de Richard Horsley também são bons, mas falham pelo radicalismo (afirmar que a ekklesia era uma sociedade política de contracultura, etc).

Bom: esta é minha contribuição...

Abraços a todos,

Brian
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