Na recente discussão sobre Paulo de Tarso, à luz de Hyan Maccoby, foi levantada a questão da ideologia no trato das questões históricas e em especial dentro do nosso tema.
Aparentemente, foi estabelecido um consenso naquela discussão de que os autores sempre serão movidos por sua ideologia. Assim um cristão levará a argumentação no sentido de comprovar sua fé um ateu fará exatamente o contrário.
Aparentemente, foi estabelecido um consenso naquela discussão de que os autores sempre serão movidos por sua ideologia. Assim um cristão levará a argumentação no sentido de comprovar sua fé um ateu fará exatamente o contrário.
Não, isso seria apologia e não ideologia. O que eu escrevi foi uma resposta à pergunta sobre a "verdade histórica". Eu disse que não há a "verdade histórica" e nem a verdade científica. O que existem são verdades sob certos pontos de vista (ideologias). Eu disse que o pesquisador ao escolher o objeto de pesquisa já está marcado pela ideologia. Falei que me referia a isso no sentido bultmanniano: "presuppositionless exegesis is impossible". Ou seja, quando nos aproximamos de um objeto de estudo já o fazemos a partir da nossa etnia, classe social, crença, etc. Coisas são importantes para mim por causa de quem eu sou... as mesmas coisas não são importantes para o Sr por causa de quem o Sr é. Isso não fere a objetividade científica, isso relativiza a verdade científica que por tanto tempo se impôs como imparcial.
Eu inclusive nunca acusei Maccoby, até brinquei com os "silêncios" dele falando de amnésia ou modestia. Eu apenas quis dizer que para Maccoby certas informações não têm importância, mas para mim que vejo as coisas por outro ângulo essas informações são importantes. Isso significa que cada resultado de uma pesquisa só tem valor quando confrontado com quem tem uma ótica diferente.
Eu apenas considerei um trabalho científico levando em conta os aspectos históricos e sociológicos que o rodeiam enquanto atividade científica como faria Thomas Samuel Kuhn (veja aqui).
Eu gostaria de discutir os limites desta acertiva visto que não concordo com a aplicação desta idéia de forma generalizada, principalmente, porque sua aceitação implica na aceitação da desonestidade intelectual com a qual não posso compactuar.
Desde que iniciamos no Yahoo o Grupo JesusHistorico temos explicitado na nossa descrição que a fé nunca poderá ser utilizada como argumento e as discussões devem se basear na metodologia da moderna pesquisa histórica. regra que na medida do possível procuramos preservar.
Se isso não fosse possível, e tem sido demonstrado viável por vários autores, teríamos que desprezar acredito que cerca de 90% da literatura sobre o Jesus Histórico visto que ela foi produzida por autores que professam a fé cristã.
Desde que iniciamos no Yahoo o Grupo JesusHistorico temos explicitado na nossa descrição que a fé nunca poderá ser utilizada como argumento e as discussões devem se basear na metodologia da moderna pesquisa histórica. regra que na medida do possível procuramos preservar.
Se isso não fosse possível, e tem sido demonstrado viável por vários autores, teríamos que desprezar acredito que cerca de 90% da literatura sobre o Jesus Histórico visto que ela foi produzida por autores que professam a fé cristã.
Creio que não estamos falando o mesmo idioma, o que eu disse no tópico sobre Maccoby foi apenas que não existe a verdade científica, mas existe honestidade e procura do máximo de objetividade científica que nos for possível, sendo que sempre será uma verdade sob determinada ótica. O mito da verdade científica já caiu. Estamos na pós-modernidade.
Assim, John Meier é um padre católico e Charles Charlesworth é um pastor protestante e conseguiram em suas obras pesquisar o Jesus Histórico sem se levar por sua fé.
Quando a Aíla afirma naquela discussão que Maccoby omitiu dados que, seguramente, conhecia para justificar seus argumentos temos que suspeitar de má fé. E sem essa de que não devemos julgar para não sermos julgados, pois considero esta uma das máximas mais hipócritas do cristianismo.
Quando a Aíla afirma naquela discussão que Maccoby omitiu dados que, seguramente, conhecia para justificar seus argumentos temos que suspeitar de má fé. E sem essa de que não devemos julgar para não sermos julgados, pois considero esta uma das máximas mais hipócritas do cristianismo.
John Meier & Cia não fazem apologia da religião cristã. Mas eles possuem a ideologia cristã. Ou seja, eles tentam ser objetivos e são honestos, no entanto certos dados só são importantes para John Meier porque ele é John Meier, se ele fosse Maccoby outros dados seriam considerados.
Eu nunca disse, pelo menos não intencionalmente, que Maccoby omitiu de propósito dados por má fé. Aliás eu sempre elogiei Maccoby, eu sempre reconheci o valor dele e eu disse lá no tópico que eu nunca falei que Maccoby agiu de má fé. O que eu disse é que certas informações são necessárias para que o leitor tenha uma visão mais ampla. Que a visão de Maccoby está restrita ao âmbito de quem ele é como pesquisador, um judeu que tem uma hipótese de que o cristianismo, desde as sua raízes, não depende em nada do judaísmo. E que eu que vejo as coisas sob outra ótica (a ótica da cristã que tem por hipótese que o cristianismo tem as origens no judaísmo) posso ampliar a visão de Maccoby como este amplia a minha visão. Por isso sempre leio autores que não concordo e me divirto em deconstruir argumentos baseados em informações que não são consideradas pelo autor que eu li. E por isso gosto de fóruns porque tenho a esperança que alguém não deixe pedra sobre pedra de minhas teorias e assim na revolução dos paradigmas outras verdades possam surgir.
Creio que não estamos falando a mesma linguagem, acho que não me fiz entender. Vou deixar que essas palavras venham em socorro da minha limitação semântica:
"In Bultmann’s view the presuppositionless criticism is impossible in that one must always approach a text with some kind of question and preunderstanding. Or one may consider the position (held at one time at least) of the French literary critic Roland Barthes that a text is always read from some vantage point -- sociological, historical, philosophical, psychological or what have you -- and that the standpoint for reading is always chosen by the interpreter, reveals something about him, and is never innocent. Barthes also added that interpretations claiming to be the most historical are not necessarily the most objective, but may rather be the more timid or banal".
Dan O. Via Jr.