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Notícias: Você que é Visitante ou Membro do Fórum da MPHP Participe do Novo Tópico sobre Submarinos Nucleares: Descomissionamento, A Questão
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31  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré : 19:02:08:19:06:04
Oi
Mas nenhum teólogo ou historiado negaria a rivalidade entre Paulo e os Ebionitas.
Acontece que para os Ebionitas, Yeshua (Jesus) é um messias judeu e para os judeus.
Paulo aceita gentios na comunidade dos seguidores de Jesus junto com os judeus. Gentios que não necessitam da circuncisão (do rito de iniciação ao judaísmo). Mas que na condição de gentios tornam-se membros da comunidade dos adeptos de Jesus.
Os Ebionitas são contra isso. Yeshua é messias dos judeus, tem que ser judeu para seguir Yeshua.
É muito simplista dizer que os Ebionitas eram aqueles que combateram Paulo por este transformou Jesus numa divindade e aqueles não aceitavam isso. O problema entre a teologia de Paulo, muito aberta para a época, e a dos Ebionitas é que esse últimos eram muito nacionalistas.
Muitos grupos judeus seguiam um messias. Acontece que apenas o messias de Paulo teve muito destaque por 2000 anos e arrastou tantos seguidores de todas as nações e não apenas judeus.
Mesmo na modernidade grupos judeus seguiram messias

Antes de vermos se Paulo era ou não fariseu eu queria apresentar uma coisa sobre Rabbi Hillel.

A discussão sobre a circuncisão de gentios surgiu com o Rabi Hillel, o qual foi o mestre de Gamaliel, que por sua vez teria sido mestre de Paulo. Hillel foi o primeiro a liberar os gentios (que queriam servir o Deus de Israel) da circuncisão e substituí-la pelo "batismo" de retorno (que era próprio para judeus que tinham se afastado do judaísmo), Paulo seguiu a linha de Hillel.

Sobre Hillel click aqui

A decisão sobre a circuncisão ou não dos gentios seguidores de Jesus teria sido tomada na reunião dos apóstolos em Jerusalém. Essas decisões basearam-se nas “sete normas” praticadas pela escola do Rabi Hillel. Essas normas foram elaboradas a parir da distinção que Hillel fazia entre “prosélitos da porta” e os “prosélitos da justiça”. Prosélitos eram os convertidos ao judaísmo. Prosélito da justiça é aquele gentio convertido que cumpre toda a Lei de Moisés, circuncisão, os 613 mandamentos, etc. Prosélito da porta é aquele que cumpre apenas as sete normas de Noé. Esse tipo de distinção não foi aceito pelos judeus de Jerusalém. Para esses judeus mais radicais, o convertido deveria cumprir tudo e ponto. Quais eram as sete normas de Noé?

    1. Não adorar ídolos (qualquer deus fora do Deus de Israel) - Gn 9,6
    2. Não blasfemar - Gn 9,1
    3. Não assassinar - Gn 9,5
    4. Não roubar - Gn 9,3
    5. Não manter relações sexuais ilícitas (não fornicar) - Gn 9,9
    6. Não comer carne de animal com sangue - Gn 9,4
    7. Promover a justiça no lugar onde habitava (Vidas honestas e retas) - Gn 9,9
32  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré : 19:02:08:00:01:25
Oi Sr Mário
Que bom que o Sr vai adquirir o livro, fico feliz.
Assim nossa conversa fica mais agradável. Eu sei que vou ficar bem no meio, entre o que tem queda por Maccoby e o "leão" que quer estraçalhar o autor.
Eu não sou nem pró e nem contra, eu gosto de livros polêmicos, mas se não vamos nos fiar na bíblia também não vamos nos fiar em nenhum autor. Vamos ter uma atitude crítica diante dos autores modernos. Não é porque alguém diz que certa passagem bíblica está errada que nós vamos acreditar. O autor moderno tem que provar seus argumentos.
Abraços
33  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré : 18:02:08:23:50:21
Oi
Muito bem, Sr Gildemar
Agora sim... tirou 10 na prova. Contente

Mas, como o pessoal daqui não é muito chegado a bíblia, então eu vou colocar os textos:


Citar
At 21
27 os judeus da Ásia, tendo-o visto no templo, alvoroçaram todo o povo e agarraram-no,
28clamando: Varões israelitas, acudi; este é o homem que por toda parte ensina a todos contra o povo, contra a lei, e contra este lugar; e ainda, além disso, introduziu gregos no templo, e tem profanado este santo lugar.
33Então aproximando-se o comandante, prendeu-o e mandou que fosse acorrentado com duas cadeias, e perguntou quem era e o que tinha feito.
37Quando estava para ser introduzido na fortaleza, disse Paulo ao comandante: É-me permitido dizer-te alguma coisa? Respondeu ele: Sabes o grego?
38Não és porventura o egípcio que há poucos dias fez uma sedição e levou ao deserto os quatro mil sicários?
39Mas Paulo lhe disse: Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia; rogo-te que me permitas falar ao povo.

At 22
1Irmãos e pais, ouvi a minha defesa, que agora faço perante vós.
2Ora, quando ouviram que lhes falava em língua hebraica, guardaram ainda maior silêncio. E ele prosseguiu.
3Eu sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas criado nesta cidade, instruído aos pés de Gamaliel, conforme a precisão da lei de nossos pais, sendo zeloso para com Deus, assim como o sois todos vós no dia de hoje.
21[Paulo diz que foi enviado aos gentios]
22Ora, escutavam-no até esta palavra, mas então levantaram a voz, dizendo: Tira do mundo tal homem, porque não convém que viva.
24o comandante mandou que levassem Paulo para dentro da fortaleza, ordenando que fosse interrogado debaixo de açoites, para saber por que causa assim clamavam contra ele.
25Quando o haviam atado com as correias, disse Paulo ao centurião que ali estava: É-vos lícito açoitar um cidadão romano, sem ser ele condenado?
26Ouvindo isto, foi o centurião ter com o comandante e o avisou, dizendo: Vê o que estás para fazer, pois este homem é romano.
27Vindo o comandante, perguntou-lhe: Dize-me: és tu romano? Respondeu ele: Sou.
28Tornou o comandante: Eu por grande soma de dinheiro adquiri este direito de cidadão. Paulo disse: Mas eu o sou de nascimento.


34  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré : 18:02:08:19:30:20
Oi Sr Gildemar

Acontece que para Maccoby e para muita gente, o fato de Paulo ser cidadão romano significaria que ele não era judeu.


Maccoby  afirma que nesse Evangelho dos Ebionitas está escrito que Paulo levou uma vida muito diferente daquela que é mostrada no Novo Testamento apresentada pelo próprio Paulo. Os Ebionitas seriam um testemunho antigo de que Paulo não teve nenhuma educação farisaica; que era um gentio, convertido ao judaísmo e quando adulto teria vindo a Jerusalém, e se unido ao sumo sacerdote como um jagunço. Depois, decepcionado porque não foi promovido, teria rompido com o sumo sacerdote e procurado a fama fundando uma nova religião.

A maioria das pessoas não aceitariam essa sua explicação abaixo, pois para essas pessoas, ser cidadão romano é igual a ser gentio:

Quanto a ele ser cidadão romano, a teoria tradicional é que ele herdou do pai rico comerciante e fazedor de tendas e redes, que comprou a cidadania para ficar mais seguro em suas andanças com a mercadoria, o qual era judeu zeloso e, com sua riqueza, também se preocupou em fornecer boa educação judaica a seu filho Saulo, aos pés de Gamaliel, em Jerusalém.
Não tenho porque duvidar dessa teoria tradicional.

O Sr pode não duvidar dessa teoria tradicional, mas outra pessoas sim. É uma teoria tradicional contra a teoria de Maccoby.

Abraços
35  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré : 17:02:08:01:54:48
Oi Sr Mário
Parabéns pelo movimento da JH.
Quanto ao Maccoby, bem... é uma leitura agradável sem todos aqueles aparatos de grego e hebraico que encontramos nesse tipo de literatura, na qual os autores lutam para provar por A+B que seus argumentos são bem fundamentados. Então, Maccoby não faz esse tipo de prova dos argumentos e assim a leitura é agradável e fluente. Mas, apesar de algumas intuições boas, como ele não usa as tais provas dos argumentos, as hipótese que ele levanta deixam muitas brechas para as críticas, como essa acima  sobre o Evangelho dos Ebionitas. E no campo da abordagem dos fenômemos religiosos o terreno é minado, a gente tem que ser esperto, não pode ir dizendo qualquer coisa e achar que todo mundo vai aceitar.
Contudo, Maccoby tem seu valor, ele levantou muitas suspeitas que fazem sentido. Eu não acho que ele seja um autor ruim, eu acho que ele necessita de uma base mais sólida para a argumentação.
O Sr pode continuar tendo sua quedinha por ele Contente, isso fará a nossa conversa mais agradável.
Um forte abraço
36  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré : 16:02:08:00:52:53
Oi
Muito movimento na Lista Jesus Histórico, não é?
Bem, então vou adiantando algumas coisas enquanto o Sr Gildemar está ocupado.

Segundo Hyam Maccoby, Paulo nunca foi judeu. Para defender essa tese, Maccoby baseia-se em supostos escritos dos Ebionitas que teriam sido suprimidos pela igreja. E se foram suprimidos, como Maccoby teria tido acesso a eles? Simples, esses escritos teriam sido preservados pelos adversários dos Ebionitas, em especial por Epifânio na obra Panarion. Foi feito um extrato de todas as citações que Epifânio faz das proposições dos Ebionitas e o nome dado para esse extrato é O Evangelho dos Ebionitas. Trata-se de um texto pequeno, são apenas algumas passagens do Panarion (30.13.1-8, 30.14.5, 30.16.4-5, 30.22.4.)
Vocês podem conferir uma versão em inglês desse texto clicando aqui

Maccoby  afirma que nesse Evangelho dos Ebionitas está escrito que Paulo levou uma vida muito diferente daquela que é mostrada no Novo Testamento apresentada pelo próprio Paulo. Os Ebionitas seriam um testemunho antigo de que Paulo não teve nenhuma educação farisaica; que era um gentio, convertido ao judaísmo e quando adulto teria vindo a Jerusalém, e se unido ao sumo sacerdote como um jagunço. Depois, decepcionado porque não foi promovido, teria rompido com o sumo sacerdote e procurado a fama fundando uma nova religião.

Vocês leram isso no Evangelho dos Ebionitas no link acima? Eu acho que Maccoby tem muito em comum com o Sr Juarez Contente.

Mas essa idéia de que Paulo não é judeu vem dos versículos que eu citei na minha postagem anterior:

At 21,39 Respondeu-lhe Paulo: Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia; e rogo-te que me permitas falar ao povo.

Rm 11,1 Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum! Porque eu também sou israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim.

E aí, Paulo era judeu ou benjamita?
Havia 12 tribos israelitas. Uma delas era a de Benjamim, outra era a de Judá. E então, Paulo se contradiz?

Em primeiro lugar, o termo Judá tem dois significados. Significava um dos patriarcas, Judá, mas significava também o Reino que era composto pelas tribos de Judá, de Benjamim e parte da tribo Levi. O termo judeu passou a ser usado depois do exílio da Babilônia para nomear um membro do Reino de Judá. Também nessa época surgiu o termo judaísmo para designar a religião do judeu.
Então o antepassado de Paulo era Benjamim, que politicamente pertencia ao reino de Judá. Paulo era judeu pela união política entre Judá-Benjamim-Levi e por religião.

Da próxima vez vou dizer de onde veio a idéia de que Paulo era gentio. Quer dizer, eu convido o Sr Gildemar para explicar esse negócio de que Paulo era judeu benjamita e cidadão romano. Vai topar?

Abraços
37  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré : 14:02:08:01:40:51
Oi Sr Mário
Oi Sr Gildemar

Então, só para provocar, vamos começar do mais fácil. Comparemos as seguintes afirmações:

At 21,39 Respondeu-lhe Paulo: Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia; e rogo-te que me permitas falar ao povo.

Rm 11,1 Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum! Porque eu também sou israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim.

Judeu? Benjamita?

E não se preocupem que vamos voltar a Maccoby.

Abraços
38  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré : 13:02:08:18:42:38
Oi Sr Mário e demais
Sr Gildemar desculpe-me pela demora, mas preferi ler e refletir com calma sobre suas últimas postagens.  O bom desse fórum, entre outras coisas é que não somos atropelados por mensagens de cunho mais relacionado aos sentimentos pró ou contra Paulo e sim temos essa tranquilidade para estudar, um verdadeiro ambiente virtual de estudos. Consultei também os links que o Sr indicou.

Eu também penso que as posições de Maccoby (tivesse ele consciência ou não disto) se fundamentam no monergismo radical derivado da Reforma. Acontce que na polêmica entre a teologia católica e a teologia protestante, Paulo foi transformado no primeiro "protestante", um protótipo de Lutero. E Tiago foi transformado no protótipo do Papa.
Paulo teria sido um "franco atirador" que não se submete a ninguém e que, percebendo a caduquice da Torah e do sistema  judaico, teria fundado uma outra religião (Paulo = Lutero). Obviamente estou me referindo a tudo isso de modo simplista. O Sr é um teólogo protestante, por favor entenda bem as minhas palavras. Sabemos que Lutero não foi bem compreendido, nem mesmo pelos que apoiaram sua causa.

Eu penso que o pesquisador tem que estar consciente dssas coisas que subjazem à pesquisa para não se deixar influenciar por elas e, assim, fazer um estudo mais científico. Não estamos aqui para ser papagaios. Temos nossos próprios neurônios e devemos usá-los.

Pelo que já pesquisei nas Cartas de Paulo, ele não combate a Torah, como Jesus histórico também não o fez, mas combate uma interpretação legalista da Torah. Por isso, eu o convido a pararmos um pouco o estudo sobre a obra de Maccoby e nos deter por alguns dias sobre as Cartas atribuídas a Paulo e fazer, aos seus textos, as seguintes perguntas:

- Paulo era judeu?
- Paulo era fariseu?

Sei que para um verdadeiro rabino o mais importante não é a Lei, mas o princípio, o espírito, que gera a Lei. Por isso, os rabinos sempre a discutem e a interpretam.

Penso que a atitude de Maccoby não foi a de um bom pesquisador porque:

- ele tirou uma porção do texto e a separou de seu contexto narrativo.
- ele não se adentrou ao método rabínico de fazer halachá. Obviamente o exemplo da viúva, em relação ao antigo e ao novo marido, é um mashal popular, cujo objetivo é chocar o ouvinte/leitor e provocar nele a reflexão. (como o demonstrei no tópico sobre Mc 9,42, confira aqui).
Não é com uma leitura tão superficial, como a que foi feita por Maccoby, que se tem acesso à profundidade do significado desse método rabínico de argumentação. Como o Sr bem explicou no seu post, o marido antigo é o pecado, a esposa é o crente/igreja e o novo marido é a justiça/Cristo. Esse tipo de associação não é uma coisa tão óbvia como a moral das fábulas gregas. Para se descobrir essa associação é necessário um conhecimento dos procedimentos rabínicos de argumentação.

Espero que o Sr tope a minha proposta de descobrirmos nas Cartas ditas Paulinas se ele era judeu e se era fariseu.

Abraços
39  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré : 10:02:08:03:05:29
Oi Sr Mário
Puxa vida Sr Gildemar, o Sr pegou pesado né... Rolar os Olhos
Eu vou ler com calma tudo que foi postado e depois retomarei alguns pontos  Indeciso
Abraços
40  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré : 8:02:08:12:02:49
Oi gente

A primeira coisa que Hyam Maccoby vai tentar mostrar é que Paulo não consegue convencer ninguém de que era fariseu. Para isso Maccoby cita um texto de uma das cartas de Paulo:
Romanos 7,1-6 Porventura, ignorais, irmãos (pois falo aos que conhecem a Lei), que a Lei tem domínio sobre o homem toda a sua vida? Ora, a mulher casada está ligada pela Lei ao marido, enquanto ele vive; mas, se o mesmo morrer, desobrigada ficará da Lei conjugal. De sorte que será considerada adúltera se, vivendo ainda o marido, unir-se a outro homem; porém, se morrer o marido, ela estará livre da Lei e não será adúltera se contrair novas núpcias. Assim, meus irmãos, também vós morrestes em relação à Lei, por meio do corpo de Cristo (*), para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus. Porque, quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela Lei operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte.  Agora, porém, libertados da Lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra.

Para Maccoby, na passagem acima Paulo está muito confuso. Paulo estava tentando comparar a ab-rogação da Lei e o advento da Nova Aliança (o Cristianismo) com um segundo matrimônio contraído por uma viúva. Mas ele é incapaz de dizer com clareza a que corresponde a esposa e a que corresponde o marido antigo e o novo marido, no texto acima.

Paulo nos fala sobre uma esposa que é liberada, por causa da morte do marido, para casar-se com um novo marido. Parece que a correspondência pretendida é a seguinte: a esposa é a Igreja; o marido anterior é a Lei e o novo marido é Cristo. Isso nos levaria à conclusão de que a Igreja está liberada, pela morte da Lei, para casar com Cristo. Mas, em vez disso, é a esposa-igreja que morre ("Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à Lei, por meio do corpo de Cristo). Outra confusão está na idéia de que o novo marido, Cristo, morreu. Mas a pior de todas é que o único termo na comparação que não é mencionado como tendo morrido é a Lei.

Por outro lado, também está presente na passagem de Romanos que uma pessoa se torna livre das obrigações legais depois da própria morte. Contudo, Paulo não diz que é o marido morto que está livre das obrigações, mas a esposa viva. Paulo ainda fala sobre a viúva e o novo marido que são livres para casar um com o outro, mas diz também que o novo marido (= Cristo) e a esposa (=Igreja) estão mortos.

Assim, para Maccoby, o que temos aqui é um caso de alguém que está tentando construir uma analogia legal e falhando miseravelmente por causa da incapacidade para pensar de maneira lógica. E tal pessoa pretende ser um fariseu, um perito da Lei. Essa passagem de Romanos provaria que Paulo não foi um fariseu.

Maccoby conclui que Paulo está tentando parecer um fariseu experimentado. Ele anuncia de um modo um pouco portentoso que aquilo que vai dizer só será entendido por quem tiver  "conhecimento da Lei", e pretende exibir perícias legais. Como os romanos (destinatários) não conheciam a Lei então Paulo passa por perito no assunto.

O que o Paulo está dizendo, de um modo geral, é que a morte dissolve vínculos legais. Então, a morte de Jesus e a morte simbólica dos membros da Igreja identificados com Jesus, os libera dos laços da antiga aliança. Este tema geral está bastante claro, mas quando Paulo tenta trabalhar um tipo de argumento legal ou parábola, baseada na lei do casamento e recasamento é que ele se enrola todo. Assim ele não convence que tenha sido um fariseu experimentado, se o tivesse sido teria se baseado na lógica concisa dos rabinos; em vez do estilo retórico do oradores helenistas do Estoicismo popular, como foi demonstrado no exemplo.

E aí Sr Gildemar? Quer opinar sobre o texto de Maccoby? Eu percebo várias falhas na argumentação do autor, não de Paulo. E o Sr o que diz do texto de Romanos? Por que Maccoby não citou os demais versículos desse capítulo 7?

----------
Notas
(*) corpo de Cristo = Igreja

Abraços
Aíla
41  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré : 8:02:08:02:01:39
Oi Sr Gildemar, tudo bom?
Obrigada por ter respondido. Agora podemos começar a conversa.
Eu também acho pouco viável que Paulo tenha se distanciado do judaísmo. Vou usar umas passagens da bíblia, mas a estou tomando como literatura, visto que não há textos antigos sobre Paulo fora dos escritos do Novo Testamento. Nessas passagens Paulo define a si mesmo como judeu e membro do grupo dos fariseus:

At 23,6:  Varões, irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus!
At 26,4-5: Quanto à minha vida, desde a mocidade, como decorreu desde o princípio entre o meu povo e em Jerusalém, todos os judeus a conhecem;  pois, na verdade, eu era conhecido deles desde o princípio, se assim o quiserem testemunhar, porque vivi fariseu conforme a seita mais severa da nossa religião. 
Fl 3,5:circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu.

Mesmo no texto de At 26,5 o verbo "viver" (grego záo) está no aoristo, tempo narrativo e não algo acabado no passado. Isso significa que, mesmo depois de estar participando da comunidade dos seguidores de Jesus, Paulo ainda se diz judeu e fariseu. Isso mostra que Paulo nem criou e nem se considerava dentro de outra religião, mas que o seguimento de Jesus era ainda entendido como um modo de viver o judaísmo. Se foi assim, Paulo não estava pensando em fundar outra religião.

Vou passar alguns trechos da obra de Hyam Maccoby, The Mythmaker: Paul and the Invention of Christianity, para a gente comentar.

Abraços
Aíla
42  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Paulo de Tarso e Jesus de Nazaré (Maccoby) : 2:02:08:18:47:04
Oi
Há um tópico no Plano de Discussões, da Lista Jesus Histórico, que propõe o debate sobre "Paulo de Tarso e a mensagem de Jesus: como Paulo amplia e divulga esta mensagem".
Talvez fosse bom tratarmos disto aqui. Vi que um dos participantes tem razão quando diz que os estudos sobre Paulo estão mais alicerçados nas Escrituras Cristãs. Talvez pudéssemos tentar considerar Paulo através de outros ângulos e não dos mesmos que já foram considerados.
Pretendo também postar uma explicação sobre um versículo da Carta aos Colossenses que me foi proposto aqui.
Alguém se interessaria por um tópico sobre Paulo. Foi Paulo um  "myth-maker"? Alguém já leu a obra de Hyam Maccoby, The Mythmaker: Paul and the Invention of Christianity?
Aíla
43  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Marcus 9:42 : 6:06:07:11:48:25
Olá
Lamento pelo falecimento de seu sogro, mas como o Sr mesmo disse que ele já era bem velhinho, então deixemos que as leis de Deus posta na natureza sejam cumpridas. Envio um forte abraço para sua esposa.
Espero que esteja sentindo-se melhor agora. Eu já tive Dengue sei o que é isso. Eu chorava e pedia a Jesus para me levar o tempo todo. Fui parar no hospital, porque a febre me fazia delirar muito, estive à beira de um AVC.
Fico feliz pelo Morgan ter desistido da Arca. Aquilo é um desgaste inútil... não compensa tanto cansaço. Eu participo de um fórum evangélico que me aceita como católica e que alguns tópicos são aboobrinhas, estes eu nem abro pra ver, mas outros são muito sérios. Eu abri umtópico lá que já teve (até hoje: 06.06.07) 5.297 visualizações e 241 respostas, tudo coisa séria. Ultimamente está totalmente abandonado por causa de minha pouca participação e recebo e-mails o tempo inteiro me pedindo para postar.
O YR é pior. Muitos se dizem ateus e não sabem nem o que é isso. O ateísta verdadeiro é alguém que ama tanto o ser humano e deseja tanto um mundo melhor, que não consegue perceber o amor e/ou o poder de Deus num mundo violento, injusto e com tantas enfermidades; e por isso se torna ateísta ou ateu. Mas esses carinhas bobos que têm problemas afetivos  e querem apenas chamar a atenção não são ateus, nem sabem o que é isso, nem estudam as religiões e não tão nem aí para o semelhante. Eu não perco meu tempo com eles.
Os tópicos não deslancharam no feedback, mas há muitas visualizações. Às vezes as pessoas não tem informações para contrapor ou comentar as postagens. E então apenas lêem e vão embora. Mas poderiam fazer perguntas, isso seria legal. As melhores coisas que já escrevi foi por causa de perguntas que me fizeram.
Eu vou continuar postando se sei que o Sr está aí. Não gosto de falar para ninguém.
Eu sinto saudades de JH também, foi um ano inteiro muito intenso. Eles gostam de debater. Falam sobre tudo, menos sobre Jesus Histórico, é engraçado, mas acabamos aprendendo muitas coisas com tantos temas que vão postando. Só que minhas postagens só eram comentadas se tivessem algumas heresia, aí o Sr Gildemar defendia a sã doutrina cristã, como foi o caso da relação entre os 12 apóstolos e o zodíaco.
Falando nisso, o Sr Gildemar está cadastrado aqui também, só que até agora não postou nada, creio que está com falta de tempo, mas esse é um problema de todos nós, tempo.
Abraços
Aíla.
44  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Marcus 9:42 : 28:05:07:22:30:04
Olá Sr Mário
Talvez fosse melhor editar o título desse tópico para que as pessoas que buscam o fórum possam situar-se melhor. Assim poderíamos conversar sobre diversas passagens difíceis. Que acha? 


Ainda estou devendo uma explicação sobre 1Cor 3,19. É que estou com pouco tempo. Mas eu poderia postar a resposta aqui caso o título do tópico mude.
Às vezes fico desmotivada de postar porque não tenho feedback apesar de tantas visualizações. Em todo fórum que escrevo é sempre assim, muitas visualizações e nenhum feedback. Eu queria aprender com as pessoas. Vi que na arca já teve bastante visualizações também... o Felipe Morgan desistiu de postar?
Sobre qual tema estão debatendo na JH? Já terminaram o tema sobre Jesus e as Mulheres?
45  Pilares da MPHP / JesusHistórico / Re: Testemunhas da ressurreição : 28:05:07:22:12:48
Citação de: Aíla
Bem é esse o substrato para o termo testemunha no NT, bem mitológico, diferente do que pensamos hoje, por isso não existe a expressão "testemunha ocular" no idioma original.

Depois veremos esse termo na concepção grega...

Então agora vamos à visão grega. Eu gostaria de começar com um texto do NT:

“Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos (perikeímenon) tão grande nuvem de testemunhas (martýron), desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta” (Hb 12,1).

Em primeiro lugar eu gostaria de enfatizar bem que os termos gregos utilizados neste versículo bíblico são todos do ambiente dos esportes, dos jogos, das olimpíadas; por isso, é difícil traduzir para as línguas vernáculas um texto teológico com linguagem esportiva, o tradutor não entende o resultado da tradução no final, e por isso, dá uma arrumada para que o texto não fique incompreendido.

Eu gostaria de destacar o termo “rodear-nos”. Trata-se do verbo períkeimai. Somente pelo prefixo verbal “peri” já lembramos de perímetro. Agora pense que você é um jogador de futebol e entra em campo num destes grandes estádios que existem no Brasil. Você está no centro de um grande círculo. E você não consegue ver o rosto das pessoas. E você ver somente as cores do time. Mas, se você estivesse num ginásio no império romano do ano 90, com quase todos vestidos de branco, o que você veria? Você se sentiria rodeado por uma grande nuvem. Os torcedores todos juntos pareceriam uma grande nuvem ao seu redor.

Agora vamos para o termo “testemunhas”. Em grego, testemunha é mártys. Isso mesmo, mártir não tem nada a ver com sofrimento e nem com morte (1). Mártir significa “expectador”.  É um termo do âmbito dos esportes. Mártir é aquele que vê os jogos. Claro que também é usado no âmbito jurídico. Pois aquele que ver pode relatar o que viu. Se a pessoa viu um crime, ela pode relatar os fatos em um tribunal. Mas isso é secundário. Pois mártir não tem uma conotação passiva, mas ativa e num tribunal essa conotação não fica tão clara.

O mártir, ou seja, o expectador, vai ao ginásio. Roma oferece pão e circo para acalmar os ânimos. A testemunha, o mártir, o expectador, vê dois gladiadores em combate. No final um dos gladiadores está ferido e não pode mais lutar. A autoridade ali presente fica de pé e espera a vontade de todos os mártires (expectadores, torcedores, testemunhas). Conforme a vontade dos mártires, das testemunhas, dos expectadores, dos torcedores, aquele gladiador ferido vai ser morto ou não.

Ou seja, o torcedor não é passivo, ainda hoje a garra dos torcedores pode mudar o resultado de um jogo na final de um campeonato. Ser mártir, ser testemunha, é torcer e virar o jogo. Tem uma conotação ativa e não passiva.

O autor de Hb estar escrevendo no momento em que já estourou a revolta judaica. Muitos judeus e cristãos foram capturados, presos e mortos. Então o autor pretende encorajar os leitores apavorados. E diz: “Gente, não tem medo não, nós estamos como num ginásio, como gladiadores feridos, mas a coragem daqueles que já foram mortos antes de nós nos anima, pois esses agora são como os torcedores gritando até que o placar seja mudado”.

Isso é ser testemunha da ressurreição, virar o jogo!


_____________
(1) Mártir passou a ter uma conotação de sofrimento muito depois quando começaram a narrar que muitos cristãos foram mortos pelo império romano depois de descreverem nos tribunais a sua crença.
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