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Notícias: Fórum MPHP - Aqui Você tem a palavra! Procure controlar sua ideologia, tanto quanto isto for possível.
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29:02:08:03:07:28
Aíla
Jr. Member

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Mensagens: 69



Oi Sr Brian
Obrigada por responder. Eu gostei muito da análise. Tenho duas perguntas:

1) O evangelho de João retoma a acusação mas atribuindo a Jesus a frase: "Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei" (Jo 2,19). Mas aqui o verbo lúo está na 2a pessoa do plural. Não é Jesus quem destrói. O Sr poderia comentar?

2) Como Jesus tomaria controle do templo se ele não pertence à classe sacerdotal?

Obrigada


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"Os homens sentem mais necessidade de curar suas doenças do que seus erros" - De Ségur (literata francesa, 1799-1874)
 

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29:02:08:03:37:03
brian_kibuuka
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Cara Drª Aíla,

A tradição joanina difere bastante da de Marcos (o que não as invalida).

Pois bem: é a retomada tardia do dito - e num contexto diferente. Engraçado é que a partir deste dito é que Reicke fala do conhecimento dos sinóticos por João.

Aqui, de fato - como foi observado por ti - está: "lúsate tòn naòn toûton". É a segunda pessoa, e "naós" (templo) denota o "sôma", o corpo de Jesus (Jo 2.21).

Perceba que o evocar da tradição da destruição do Templo por Jesus se dá na boca dos judeus (Jo 2.20), o que João refuta (Jo 2.21, usando a adversação). Aqui, um dito dos sinóticos é retomado, para indicar o equívoco dos judeus sobre a reconstrução do Templo. Também para indicar que o Templo não foi reconstruído (ele, quando da publicaçã do Evangelho, já estava destruído), mas que Jesus ressuscitou - e que era deste assunto que Jesus tratava. Ainda é importante afirmar que o texto surge no contexto da "purificação do Templo", indicada como tendo acontecido numa das viagens de Jesus por ocasião da festa, e não como na tradição sinótica: na semana da sua morte. É um distanciamento significativo, que podemos discutir caso queiras, evocando Dodd, Brown e outros autores que lançam propostas interessantes sobre os porquês.

Agora, a outra pergunta.

Acho que não me fiz entender bem: Jesus não desejava tomar o controle do Templo. Ele simplesmente desejava, segundo Marcos, explicitar a verdadeira serventia das negociatas ocorridas no Templo naquela época. A sua acusação é dura: o Templo se transformou em covil ou caverna de salteadores: "spélaion leistôn". O problema não está no Templo. Está nos salteadores. E uma coisa geralmente não se observa: no texto, Jesus está citando a acusação de Jeremias em Jr 7.11.

O que Jesus fez no epísódio foi afirmar a natureza da intenção dos sacerdotes em seu serviço naquele dado momento. De forma alguma ele desqualificou o ofício sacerdotal. Apenas exigiu que os responsáveis pelo Templo o utilizassem como as Escrituras exigiam (Is 56.7), "casa de oração para todos os povos".

Bom, são minhas opiniões.

Abraços,

Brian
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Aíla
Jr. Member

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Oi Sr Brian
Vejo que o Sr já entrou na onda do Sr Gildemar e também já está brincando comigo... bom ... um ponto positivo de quem brinca é a proximidade... e se estamos próximos, já me sinto mais à vontade...


Aqui, de fato - como foi observado por ti - está: "lúsate tòn naòn toûton". É a segunda pessoa, e "naós" (templo) denota o "sôma", o corpo de Jesus (Jo 2.21).

Hummmm Contente “naós” é o santuário ou o prédio? Compare com Jo 18,20.

Acho que não me fiz entender bem: Jesus não desejava tomar o controle do Templo. Ele simplesmente desejava, segundo Marcos, explicitar a verdadeira serventia das negociatas ocorridas no Templo naquela época. A sua acusação é dura: o Templo se transformou em covil ou caverna de salteadores: "spélaion leistôn". O problema não está no Templo. Está nos salteadores. E uma coisa geralmente não se observa: no texto, Jesus está citando a acusação de Jeremias em Jr 7.11.

Acho que  o Sr se fez entender bem. É que penso que há outras coisas em jogo aqui. Veja que Jesus está no pátio dos gentios, na época considerados impuros. Mas Zc 14,20-21, menciona os utensílios do templo com a mesma sacralidade que qualquer panela na casa de qualquer israelita. E depois o profeta afirma, não haverá cananeu no templo, claro, pois nada nem ninguém será impuro. Trata-se dos gentios no templo, tanto no texto do profeta quanto no texto do evangelho.
Depois é citado Is 56, capítulo sobre o ingresso de gentios no interior do povo de Deus. O versículo 7, é a chave do capítulo, o ingresso dos gentios se dá pelo templo.
Depois temos a menção do templo como covil de ladrões de Jr 7,11, para dizer que nenhum israelita se ache melhor que um gentio, pois o israelita que não anda de acordo com a orientação de Deus pode ser punido. O que faz a pertença ao povo não é, no dizer de Jr, a genética, mas seguir a orientação de Deus.
O texto do evangelho parece argumentar, a partir das citações do AT, da seguinte forma:
1) Ez : quando vier o messias, desde o Monte das Oliveiras, os gentios obedecerão ao Deus de Israel e não mais haverá diferença entre sagrado e profano
2) Is: O templo será a casa de oração para todas as nações (veja a acusação de que Paulo introduzia gregos no templo)
3) Haverá um julgamento e quem pertence ao povo pode ser rejeitado


O que Jesus fez no epísódio foi afirmar a natureza da intenção dos sacerdotes em seu serviço naquele dado momento. De forma alguma ele desqualificou o ofício sacerdotal. Apenas exigiu que os responsáveis pelo Templo o utilizassem como as Escrituras exigiam (Is 56.7), "casa de oração para todos os povos".

A expectativa judaica por um messias guerreiro é a seguinte:
Deus incitaria as nações para a guerra. Gog e Magog (= número 70) , ou seja todas as nações combateriam contra Israel e seu messias no Monte das Oliveiras. Após a derrota das nações começaria o tempo escatológico. Uma nova terra. Israel governaria as nações e todas seguiriam a Lei de Deus (=lei do vencedor, Israel). Todas as nações celebrarão a festa dos tabernáculos (sukkot), isso é muito significativo. O templo seria o lugar por onde os gentios entrariam no povo de Deus. Claro, pois Abrão foi chamado, do meio dos gentios, para ser bênção para as nações. Por isso ele é o pai da fé, como diz Paulo, porque ele era gentio e deixou os ídolos para seguir o Deus verdadeiro. E o templo existe para repetir o sacrifício, ou melhor a akedah, de Isaac. Conforme o livro de Crônicas, o templo foi construído sobre o Monte Moriá, onde Isaac foi amarrado para o sacrifício. E segundo as interpretações rabínicas, todo sacrifício realizado no templo é uma repetição do sacrifício de Isaac, até que viesse o messias. O sacrifício de Isaac é o meio pelo qual Deus abençoa as nações, inclusive Israel. Quando vier o messias, os gentios ingressarão no povo pelo templo e depois não haverá mais necessidade do templo (veja a conversa com a Samaritana). Não haverá mais o profano.
Se eu tivesse vivid na época de Jesus eu também teria ficado com raiva. Como ele pode falar que o templo não está cumprindo o papel de acolher os gentios se ainda não aconteceu a guerra escatológica? Eu teria dito: Quem você pensa que é? O messias ainda não veio? Não houve guerra?

Essas são as minhas opiniões. Contente
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